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Foto do escritorJanis Bomfim

Como a correção exacerbada e desmedida está diretamente ligada ao medo de tentar?

Atualizado: 25 de nov.

Corrigir alguém em um momento de aprendizado está diretamente relacionado ao desenvolvimento de um bloqueio para novas tentativas, seja no âmbito pessoal ou profissional, mas principalmente durante a alfabetização, de crianças em sua língua materna ou de adultos em um segundo idioma.


Para quem, assim como eu, nasceu nos anos 80/90, com certeza, ao menos uma vez, foi corrigido pela professora de forma pública, e muitas vezes vergonhosa, em alto e bom som para os amigos ouvirem.


Isso, infelizmente é uma pratica adotada até hoje por muitos educadores, porém, não é que os professores eram carrascos (alguns eram sim) mas a maioria deles também foi criado e instruído a ensinar dessa forma, corrigindo para podar, assim como fazemos com as folhas ruins das plantas, os erros dos alunos, com a crença de que assim eles seriam expurgados dessas falhas e seriam alunos e futuramente adultos melhores.


Entretanto, não é preciso aprofundar a pesquisa para encontrar pencas de pessoas frustradas e mais que isso, bloqueadas para novos aprendizados, e isso se deve, única e puramente por medo de reviverem a experiência quase cruel que é expor o erro de uma pessoa.


O medo da correção faz as pessoas hesitarem e assim, muitas vezes, perderem uma oportunidade incrível, por puro medo de ser ridicularizado através de uma correção pública e quando focamos nosso olhar nas mulheres, essa cobrança por ser perfeita, sem erros, sem ousadia se torna ainda mais palpável e cruel.


Segundo o site Economia SP em uma publicação de 2022, as mulheres apenas se candidatam a vagas no mercado de trabalho quando preenchem 100% dos requisitos exigidos, enquanto os homens se aplicam quando possuem 60% dos requisitos.


E isso não é uma batalha sobre homens serem corajosos, mas de uma cobrança excessiva depositada sobre os ombros de todos, mas com uma carga ainda maior quando tratamos de mulheres.

Não entendam essa escritora mal, eu não condeno totalmente a correção e muito menos acredito em sua 100% ineficácia, já que para aprendermos é necessário que sejamos expostos aos erros, apenas acredito veementemente que existam formas cuidadosas e momentos certos para essa abordagem e durante o contato com algo novo, seja a alfabetização em sua língua materna ou no aprendizado de um novo idioma, não é exatamente o timing de corrigir até o sotaque de alguém, quem dirá dar palco para o erro quando o esforço é que deveria ser enaltecido.


Acolher a pessoa, mantendo o ambiente de aprendizado sem uma cobrança excessiva e principalmente que incentive o aluno, seja qual data de nascimento conste em seu RG, a arriscar e tentar sem medo é, sem dúvidas, uma prática promissora e absurdamente humana.


Não somos computadores ou robôs pré-programados apenas com duas respostas “certo ou errado” somos uma infinidade de jeitos, trejeitos e formas de abordagens, que nos possibilitam ir muito mais além do que apenas duas opções e consequentemente nos proporcionam adaptar o ensino ao grupo, a necessidade e principalmente a dificuldade de cada um, sem ser um botão vermelho ambulante que grite aos alunos a sua incapacidade.


Em vários momentos da minha vida pude experienciar o quanto a sombra do medo da correção ainda está intrínseca em mim e em momentos que não me era corrigido algo, eu tinha quase que a necessidade de pedir para que o fizessem, por isso, hoje como mãe busco oferecer ambientes seguros de aprendizagem em casa, possibilitando erros, incentivando tentativas e parabenizando-as pela coragem de o fazê-lo. Mas ainda sentia que faltava algo, pois somente ser ativa no desenvolvimento das minhas meninas não sanava em mim a angustia pela autocorreção, que desaguava em um bloqueio e assim uma não tentativa de algo novo.


Aprender inglês sempre foi um desafio excruciante, pois como toda a bagagem que o aprendizado na primeira infância me proporcionou eu me sentia incapaz de aprender, pois como fazê-lo sem a ousadia, coragem e vontade de tentar, independente se fosse errar? Sei que muito adultos, que já passaram dos 30, se sentem da mesma forma, como se simplesmente não pudessem mais tentar, pois se não lhe era permitido errar aos 6/7 anos, como seria possível se permitir errar depois de três décadas de vivencia?

Eu já estive em alguns ambientes acolhedores, e verdade seja dita, muitos deles foram idealizados por mulheres para mulheres, mas surpreendentemente o ambiente mais recente que me senti segura para me arriscar foi a TALKNTALK, que é idealizada por um homem, mas que muito além do que qualquer outra empresa de idiomas poderia me oferecer, eles me receberam em um ambiente seguro para errar.


Errar até acertar, errar para me permitir ousar. Errar para descobrir minhas amarras e me desvencilhar de cada uma delas, no meu tempo, abraçando meus erros e podendo finalmente conserta-los ou apenas abraça-los e conviver com eles. Errar até entender que o objetivo de uma língua, seja ela materna ou um segundo idioma, é a comunicação e que para que ela aconteça é preciso que você fale. Que se arrisque. Que erre.


E que está tudo bem não fazer a concordância verbal, desde que a mensagem seja transmitida e compreendida.

Esse é um primeiro passo e esse primeiro contato precisa ser leve, precisa ser um ambiente de testes, precisa ser acolhedor com as ousadias, mas principalmente com os erros.

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